Feeds:
Posts
Comentários

Uau! 8ª maior economia do mundo! Sim, sim. Sem dúvidas um posto difícil de ser alcançado. Mas disso para “país emergente invejável”,  “nação espelho!”, já é um pouco demais.

Tudo bem que exportamos 197,9 bilhões de dolares em 2008, superamos a crise em 2009, temos uma bolsa de valores em franco crescimento e atingimos 15 anos de estabilidade econômica. E até temos muitos outros números para provar que dinheiro não é mais um problema tão grande assim.

Contudo, as vezes parece que esquecem que nosso país derruba helicóptero militar, nossos representantes escondem dinheiro onde couber  e nosso presidente é um… deixa pra lá.

Até temos grana, mas, ironicamente, somos também 75° colocado no índice de desenvolvimento humano da ONU, um dos países mais desiguais do mundo e nossas mulheres conseguem ter menos oportunidades que as paraguaias.

E outra, números não é tudo. Vivemos em pânico, a violência é escancarada, chega a matar mais que muita guerra. Somos racistas. Nossa educação é precária. Nossos políticos são sujos.

Não que exista nesse planeta um país sem problemas sociais, mas existem opções melhores para tomar como exemplo. Ter o Brasil como referência é almejar pouco, afinal, caso esse país perfeito exista em alguma outra galáxia, pode cre que ele é bem diferente daqui.

Me desculpem hermanos, mas vocês pensam pequeno. (1, 2 e 3)

Argentina, educação pública decente e políticas de incentivo à cultura garantem um bom nível intelectual da população. Oitavo maior país em território, com uma variedade geográfica e de recursos coerentemente grande. Todos os subsídios para que o conhecimento gerado aqui seja aplicado. O que falta então? O que leva os platinos a essa estagnação economica, num-vai-nem-vorta a ponto de discutirem por hoooras na televisão por que o Brasil é uma potência e a Argentina não? (assim, desse jeito que eu escrevi, tava na bordinha da televisão).

Em uma conversa muito bacana com o prof. Nestor Rodrigues aqui da UNL, e depois reforçado em uma palestra com o já citado ex-ministro Aldo Ferrer, um ponto chamou bastante atenção: a polarização da política Argentina. Vamos entonces…

Um processo (parecido com o brasileiro) que vinha sendo construído (e agora puxando aqueles termos do colegial: substituição de importações, aumento da malha viária e ferroviária, implantação de direitos trabalhistas) foi interrompido diversas vezes durante o século XX por ditaduras, mais ou menos extensas, que implantavam uma política econômica também parecida com os farda-verde do Brasil: abertura ao capital externo, aumento nas importaçoes, aumento da dívida externa e por aí vai. Assim, as políticas de “bienestar”, o baixo desemprego, a baixa taxa de pobreza que eram baseados em uma política desenvolvimentista (responsáveis pela fama de Argentina país bom) não tinham como prosseguir, visto que a industrialização, que era a base disso já não estava mais em crescimento. E na década de 1990, o neo-liberalismo de Menem não foi capaz de segurar as pontas.

E o que passa agora é um governo chamado por alguns de “dinástico” ou de “tendências despóticas” por parte dos Kirchner: primeiro o Néstor , depois a Cristina (sua esposa), conduzindo um governo muito criticado por não ter foco. São acusados por (além de corrupção) se aproximarem mais de Chavez e Evo do que de Lula e Bachelet, de serem orgulhosos nos assuntos exteriores, populistas, orgulhosos, gastões e etc. Talvez sejam mesmo, mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que a Argentina não seguiu um plano, não teve propostas mínimas mais ou menos definidas que fossem seguidas por mais do que três ou quatro mandados presidenciais. Muito do que um governo faz, provavelmente o oposicionista que venha em seguida vai deixar de lado. Os que foram neoliberais, privatizaram a torto e a direito pra manter o dólar um-pra-um, os militares vinham e mudavam tudo do que os peronistas vinham fazendo… E assim cabe a frase de Ferrer: “a Argentina foi um país pensado e despensado muitas vezes.” E atualmente, se for comparar com o Brasil, que vem de 4 mandatos regulares que seguiram algumas diretrizes, com muitas diferenças mas manutenção de linhas importantes econômicas e políticas, realmente o contraste fica crítico pros hermanos.

Para entender um pouco mais a admiração dos hermanos por nosotros, artigo do jornalão La Nación “Brasil, por qué seduce al mundo?”

sdada

Carro-chefe das exportações nacionais na década de trinta e ainda dotado de significante papel economico, o café talvez seja nosso mate. Ou quem sabe, o mate deles um dia chegue a ser nosso café. (nada contra o chazinho)

Marcas já conquistaram o mundo vendendo café. Outras ainda pretendem isso um dia. Fato é que o grão hoje possui uma popularidade absurda no país. Servindo de estimulante para manter pessoas acordadas, álibi para conversas extensas, ou apenas um modo prazeroso de encerrar uma refeição. O cafézinho hoje é a cara do nosso país.

Sua versatilidade também é curiosa. Da mesma forma que pode ser feito do mais requintado grão, torrado e moido com técnicas pra lá de especiais e preparado por cafeteiras importadas e robotizadas. Ele também pode custar menos de R$ 0,50 centavos, ser vendido em qualquer barraquinha de rua ou feito com aquele pozinho mequetrefe e aquele coador de papel descartável.

Quer saber? Independentemente da técnica, aquele cheiro atiça e contagia qualquer um!  ;)

1- Pegue a cuia e seus amiguinhos, mate é um momento social. A cuia (que eles chamam de ‘mate’ mesmo) argentina, diferente da do chimarrão que geralmente é feita do próprio porongo, fruto do porongueiro, pode ser de madeira, plástico ou vidro. Tem umas estailes de acrílico, modernosas. Na foto, um souvenir fofinho.

Primeiramente, junte os materiais: cuia, bomba, erva e parceiros.

Até tem gente que toma sozinho, mas geralmente é em grupo.

2- Coloque mate até uns 3/4 da cuia e deite-a, deixando a erva encostada em um dos lados da cuia.

Tem vários tipos de erva. Aqui, usamos Rosamonte suave.

Tem vários tipos de erva. Aqui, usamos Rosamonte suave.

3- Acrescente água quente pelo lado mais vazio, sem molhar toda a erva. A água deve estar em uns 80 graus, não se deve deixar ferver. Espere um pouco pra erva sugar a água. Coloque mais água e a bomba (o canudo de ferro), pelo mesmo lado. Importante botar a bomba até encostar no fundo e não mexer mais nela, senão a erva sobe com a água.

Se encharcar a erva inteira, ela fica zoada. Coloque a água só do lado mais vazio.

Se encharcar a erva inteira fica zoada. Coloque a água só do lado mais vazio.

4- Tome (tudo, não pode passar cuia com água, é feio) e passe pro próximo. Quando ficar sem gosto, jogue a erva fora e é só repetir o processo.

Importante: recusar é falta de educação, a não ser que você alegue gripe suína ou algo assim.

Importante: recusar é falta de educação, a não ser que você alegue gripe suína ou algo assim.

Duvido que alguém vá fazer um mate seguindo essas instruções, mas espero que tenha passado o feeling do evento. Em breve, como fazer um café firmeza.

Fotografado, feito e tomado na Costanera aqui de Santa Fé, com os brothers da residência :)

Em Sampa
Como morador de São Paulo, tenho como um dos maiores prazeres a comida. Opções as tantas, por todos os lados, a qualquer hora do dia e da noite. Lugares perfeitos para ir acompanhado, sozinho, ou em turma. Vastas opções de petiscos, muitos chefes conhecidos mundialmente ou mesmo, o básico arroz e feijão. Mas o assunto desse post é apenas uma pequena parte disso tudo, o ponto é aquelas comidinhas do cotidiano, aquelas de terminais de ônibus, portas de metro e barraquinhas de calçada.

Elas vão do milho, acompanhado por manteiga e sal, até aquele churrasco grego acompanhado por um copo de suco. Passando por amendoim, churros, pastel, fritas, yakissoba, saduíches, etc. A semelhança entre todas elas? Nenhuma é saudável e todas cabem no bolso.

Gênio: 3 reau o yakissoba na 25 de março.

Gênio: 3 reau o yakissoba na 25 de março.


Infelizmente não achei dados sobre a quantidade de pessoas que sobrevivem dessa prática, nem o quanto isso é relevante para a sociedade, mas basta encostar ao lado de um vendedor de pipoca na Av. Paulista lá para 17:30 para ver que o movimento é enorme e que isso já faz parte do DNA da cidade.

Fato é que muitas são as pessoas que se alimentam todos os dias fora de casa, contudo, nosso país infelizmente não consegue proporcionar um ticket-refeição digno para todos os seus trabalhadores. Para administradores públicos (e para você que deu, digamos… azar com aquele yakissoba da paulista) esse setor pode até representar um problema, visto que não se arrecada impostos e não são fiscalizadas as condições de higiene. Contudo, para muitas pessoas, são essas barraquinhas que matam a fome, com louvor, no final do dia.

Na Argentina
O ponto agora é o rango, que beleza. A Argentina tem uma culinária agradabilíssima, que será comentada com cuidado aqui, aos poucos. E, mantendo a excelente média gustativa nacional desse país que é uma belezinha gastronômica, desde cedo já estão quentinhas e recheadas as facturas, gloriosos docinhos de uma massa parecida com a de croissant salgados ou doces e quando recheados, agraciados com goiabada, doce-de-leite e outras milongas mais. E falando de doce-de-leite, o quitute é praticamente um patrimônio cultural nacional, cultuado e onipresente.

Recheadas com goiabada, doce de leite, leite condensado...

Recheadas com goiabada, doce de leite, leite condensado...

Para acompanhar, NÃO rola café, apesar de ser bastante presente em tudo quanto é lugar. É fraco, aguado, outro padrão. Tá osso a abstinência aqui. No entanto, os hermanos têm uma tradição bem agradável em bebida quente: o mate, que merece um post a parte, por esses dias ainda.

E na falta de Habib’s, pão de queijo e estas belezinhas forra pança, fazer o que? Eu digo feliz: empanadas. De uma massa mais fina que a comum de esfiha e recheios variados (mais comuns de carne, presunto e queijo e cebola e queijo), o quitute é facilmente encontrado, assado ou frito, em padarias, bares e tudo mais. E estão firmes tanto pra um almoço rápido, um quebra-galho ou como “bocadillo” (tira-gosto) no happy hour mesmo. Ahn, tocando nesse assunto, há Brahma aqui, não tão boa quanto no Braza, e marcas nacionais bacanas, como a conterrânea Santa Fé, a Schneider e a levíssima Quilmes, além das internacionais. E graças a impostos mais baixos a bebidas alcoólicas, você encontra o litro (a garrafa de cerveja retornável aqui é de 970 ml – “el porrón”) em bares entre 5 e 12 pesos (aí vai do nível do bar, dos mais várzeas aos chiquezinhos, restaurantes…).

Essa da foto foi frita, mas pode ser assada também.

As pizzarias fazem no forno à lenha. Fica animal!

¡Disfrutá!

10 x 10

Dieguito, um mito

É absurdo, às vezes. Entre as classes mais intelectualizadas nem tanto, nem entre os pequenos que o consideram um zé droguinha gordo. Mas o sentimento do povão argentino por Maradona é indescritível. Um dos maiores símbolos da Argentina, o cara que na mesma partida fez o que foi chamado de Gol do Século e um gol com a mão que até hoje é ovacionado (enquanto argentinos e ingleses se batiam nas arquibancadas, 4 anos depois das Malvinas), é um dos principais responsáveis pela fama de marrentos e fanfarrões dos hermanos. Muitos falam dele com o olho brilhando, saudosos e orgulhosos no melhor estilo “Era Zico”, e bandeiras estampam seu rosto nos estádios.

vitrine com maradonices, e "Algun dia le contarás a tus hijos que le viste jugar"

vitrine com maradonices, e ´Algun dia le contarás a tus hijos que le viste jugar´

Sempre agiu como quis, sendo um dos mais ferrenhos críticos de dirigentes e políticos envolvidos com o mundo da pelota aqui na Argentina. Teimoso e determinado, jogou diversas vezes lesionado, escolheu atuar no endividado Boca Juniors do início da década de 80, jogou e viajou várias vezes pela seleção sem autorizaçao da direção de clubes, e construiu assim uma empatia única entre futebolista e torcida. Hoje como técnico da seleção, faz birra (apesar de negar) pra nao jogar no estádio do River Plate (cuja camiseta afirmou que é a única que nao vestiria, na época do comercial do Guaraná onde aparece com a amarelosa ), e consegue mudar o jogo de cancha, sendo apoiado por muitos. Estabeleceu, com atitudes firmes (e quase ignorantes) sua faceta mais admirada: uma paixao incondicional e autêntica ao esporte.

Mas a partir do início dos noventas não conseguiu mais. E tendo uma carreira desportiva grandíssima, grande -e triste- foi também sua decadência, o caminho de “barrillete cósmico” para “gordón drogadicto”. Se negou então a ser exemplo, disse que não tinha que ser referencia pra ninguem. Mas já não havia volta, sua imagem já transcendia seus atos. O Maradona lembrado e comentado em kioscos por aqui, vai estar sempre passando no meio de cinco ingleses e cantando o hino orgulhoso na Espanha. A comparação com Pelé é pífia.  Nosso povo deixou de gastar palavras para provar que Pelé é o melhor de todos os tempos. É e ponto.

até parece

até parece

Mas Maradona foi além de Pelé junto ao povo de seu país. Se existe comparação possível com algum brasileiro, talvez (perdão, gente) com o Senna. O argentino pobre que conquistou o mundo se transformou em símbolo, inverteu a lógica, humilhou os ingleses, cartolas, técnicos e adversários, disparou espingardinha de pressao em jornalista, e hoje é brother do Chavez e do Fidel. Virou mito, com sua competência futebolística e com sua língua afiada, uma sempre dando respaldo à outra.

Maradona x Pelé. Pelé x quem?

Essa discussão até pode ser velha. Mas, rivalidade futebolística hoje em dia só existe mesmo do outro lado da fronteira. É impressionante como às vésperas do jogo contra os maiores rivais do futebol brasileiro, pouco se comentou sobre o tal “super confronto”. A seleção de Dunga não empolgava, e não era assunto. Era dia de jogo e a partida do Palmeiras no nacional chamou mais atenção. Não adianta: hoje, o campeonato brasileiro empolga muito mais, mexe com verdadeiras paixões e, principalmente, é imprevisível.

Não que todos não estivessem na frente da televisão na hora do jogo da seleção (e comemorando muito). Não também que todos tivessem a certeza da vitória brasileira, mas antes era como se qualquer resultado fosse normal. Caso perdesse, “ok, o jogo era lá mesmo”. Caso ganhasse, “ok também, eles são fregueses faz tempo”.

Por aqui a rivalidade entre brasileiros e argentinos já não está mais no futebol, passou para outro estágio, um estágio muito menos saudável por sinal. Não gostamos dos hermanos, mas pelo simples fato de terem nascido lá, o futebol deixou de ser desculpa, o aval social não é mais necessário, o preconceito virou algo irracional e sem propósito.Como brasileiros, não negamos gostar de ver a desgraça do vizinho. E, se existe uma pessoa que contribuiu muito para isso, ela é o Maradona. Uma figura mitológica que consegue estereotipar toda uma nação, não por acaso, e não injustamente, já que falamos de uma nação orgulhosa disso.
tinha feito intensivo com a Vanusa

tinha feito intensivo com a Vanusa

Nosso passado (e presente) nos garante em qualquer discussão sobre futebol, seja com argentinos, seja com qualquer outra nação. E com isso, a seleção deixou de ser assunto, a rivalidade passou a ser local e o preconceito se mostrou gratuito.

PS: Sim, muitos argentinos estavam no Gigante de Arroyito no último sábado por causa do Maradona, e não de Messi ou Kaká. E sim, ele será perdoado, mesmo que a Argentina não vá nem pra repescagem.